Pai é um negócio ótimo. Menos, é claro, quando eles ficam enchendo a paciência. Que afinal, faz parte da condição de pai não entender tudo. E faz parte da condição de filho, ou filha, não explicar tudo. Pra crescer você tem que deixar seus pais de fora de algumas partes da vida. É assim que funciona. Não fui eu que inventei, mas concordo. É isso mesmo!

Entretanto, aliás como tudo que eu faço, não funciona 100%. Eu não sou uma filha misteriosa, que faz questão de fazer tudo escondido. Pelo contrário! Inclusive, do jeito que eu falo volta e meia eu me pergunto como é que eu consigo guardar algum segredo! (antes que alguém pegue um machado e venha me assassinar, por algum motivo misterioso, eu consigo sim, tá?!)

Bom, mesmo assim tem assunto que não é de conversar com pai e mãe. Sobre mocinhos, por exemplo, nunca gostei de falar. É que eles são muito protetores! Se eu conto de uma briga o indivíduo já vira digno de ódio eterno e encaminhado pras profudezas do inferno. Pois é, por umas e outras eu passei a selecionar bastante o que pode contar ou não. E eu faço isso na maior tranquilidade. Crente que engano o mundo. Crente só, porque de vez em quando meu pai (e é sempre meu pai) gosta de me mostrar que só porque eu não conto, não significa que ele não sabe...

O caso é que outro dia eu cheguei em casa tristinha. O motivo não vem ao caso e era até meio bobo, mas o fato é que eu estava triste. Cheguei em casa e fui direto pro meu quarto. Só gritei um "Pai, cheguei!" (observem que ele nem me viu!), ao que pap´s respondeu:
-Rita, vem cá!- e fui.
-O que aconteceu?- foi disparando
-Como?
-Conta logo a desgraça.
-Que desgraça pai?
-A que te fez chegar em casa com essa voz, nessa hora e andando desse jeito.
-Mas não aconteceu nada pai!- Mentira, mentira.
-Não quer falar, não fala. Só não esquece que eu te conheço muito bem. E não tem a menor chance de voce ficar triste assim sem eu perceber. Ouviu?

Assustador, não é? Quero dizer, é ótimo sentir que tem alguém que está sempre cuidando, sempre se preocupando com voce. Mas é assustador saber que meus pais me leem como um livro. Não importa quantos anos eu tenho ou quanto eu acho que disfarço...