sexta-feira, 6 de agosto de 2004

Eu nunca soube o que eu queria ser. Todo mundo queria ser alguma coisa, eu não. Eu nunca quis ser bailarina, nem fugir com o circo, nem ser super-herói (alguns super-poderes eu até queria...), nem ser cantora/modelo/atriz, nada nada. Eu dizia prá minha mae que eu ia fazer faculdade de Marajá. (o que eu continuo achando uma ótima idéia...)

A única coisa que eu sabia com certeza, que eu não abria mao, era que, fosse o que eu fosse, eu ia ser a melhor, a maior, a rainha da cocada preta, a dona da bola! Mas tinha que ser uma coisa expontanea. Eu tinha que ter um talento nato prá coisa. Eu tinha que ser ótima sem treinar! Estilo jogador de futebol bonitao que só aparece na hora do jogo, mas todo mundo tem que engolir porque só ele é que faz gol.

Primeiro eu queria ser perfeita, a melhor em tudo. Lógico que não deu certo. Não tem jeito de uma idéia dessas dar certo, óbvio! Ainda mais quando se está em fase de crescimento, seus braços mudam de comprimento todo dia (e por conseguinte você derruba tudo o que toca), você é um caniço esticado, acha os meninos adoráveis e insuportáveis (e ainda nao acostumou que é assim mesmo), é incapaz de se entender com uma bola e tem sempre um espertinho na sala prá tirar uma nota melhor do que a sua na prova.. Não, perfeita não dava... Tava estressando demais!

Resolvi entao encontrar uma coisa em que eu fosse naturalmente boa, me destacasse naturalmente, e me dedicar a ela a tal ponto que eu acabasse me tornando a melhor do mundo! Ahahaha (risada de psicopata) Só que isso também foi outro desastre. Não existe destaque! Minto, tenho destaques na ruindade. Eu sou uma das pessoas que joga esportes com bola pior no planeta! Inclua aí totó, boliche e bolinha de gude! Mas não para aí! Depois eu pensei em ser escritora... Sim, eu sei, é terrível... Uma década depois eu ainda não aprendi a escrever! Imagina na época! Mas isso não me impedia de perseguir meus pobres amigos e familiares com as minhas famigeradas poesias. Eu era muito persistente! Só desisti no dia em que uma amiga (dessas que a sinceridade ultrapassa os bons modos) quase morreu de rir com o meu último poema sobre a solidao. Insensível! Tudo bem que era uma porcaria mesmo, mas ela podia ter rido menos. Eu acho.

Depois disso eu pensei em desistir do meu plano de ser a melhor do mundo. Fosse no que fosse. Eu inclusive disse que desisti. Tomei uma atitude de desistencia. Fui fazer medicina, assunto no qual eu nunca vou ser a melhor. (nem ninguém vai, é coisa demais, dividido demais! Não tem mais como existir o melhor médico do mundo!) Eu parecia curada da minha obsessão, mas é tudo fachada. Eu ainda quero ser a melhor. Em alguma coisa, em qualquer coisa! Ainda não descobri o que é. E não tem a menor chance de eu desistir. Eu sou muito teimosa! (não a mais do mundo. Já pensei nisso. Meu pai ganha fácil!)

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