sábado, 5 de junho de 2004

Eu trabalho em Contagem e parte da aventura de trabalhar em outra cidade consiste em algum tempo de transito. Transito este que nem sempre flui muito bem (como qualquer um que já passou por lá sabe).
Geralmente é um momento do dia que eu uso prá pensar na vida. Que afinal quando é que eu tenho 40 minutos de paz, sem ninguém me aporrinhando? Eu acho um pouco estranho meu momento de paz do dia ser dirigindo, que afinal transito teoricamente é estressante! Mas desde que roubaram meu rádio (e eu ando sozinha) meu carro virou meu templo. Eu tomo decisoes fatais, mudo os rumos da minha vida e até resolvo o problema da fome mundial enquanto eu estou atrás do volante.
Alguém pode estar pensando que eu deveria prestar mais atençao ao ato de dirigir em si, mas está errado. Uma grande parte do tempo que eu passo na Amazonas é atrás de sinal fechado. E mesmo quando abre nao tem muito segredo, eu vou na minha filinha durante uma parte razoável da avenida sem ter que me preocupar com coisas demais. Lógico que se aparece alguma distraçao (tipo uma batida ou um carro quebrado ou um caminhao muito muito lerdo e só eu continuo atrás dele) eu deixo meus pensamentos e retorno a realidade do transito. Só o tempo de contornar os contratempos, é verdade, e eu já volto aos meus pensamentos.
Outra coisa que eu gosto de fazer, mas essa só da certo quando o transito tá bem ruinzinho, é observar os pedestres. Eu gosto de fazer isso desde pequenininha. Eu fico vendo as pessoas passarem e reparo no rosto, no jeito, na roupa e fico tentando adivinhar quem é essa pessoa. O que faz, se tem filhos, se está com pressa, se está feliz...
Eu acho que uma das maiores revelaçoes que eu já tive inclusive vem desse meu hábito. Eu era pequena e estava olhando os pedestres pela janela do banco de trás (minha mae nunca me deixava andar na frente) e de repente me ocorreu que todo mundo que estava passando na rua existia de verdade! Todo mundo tinha acordado de manha, tomado café, arrumado o cabelo e saído prá fazer alguma coisa. Aí eu pensei que quem tinha ido trabalhar teve que um dia arrumar um emprego prá poder estar alí naquele dia, naquele momento para poder compor a minha paisagem. Que na minha vida aquelas pessoas eram isso, paisagem, mas prá elas eu era a paisagem... Nunca mais fui a mesma.

|
Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com